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Taís Turaça Arantes
Tenho 38 anos, e ainda me lembro daquela manhã de natal. A tão esperada manhã... a manhã em que encontrei o cadáver. Tenho cada momento daquele indesejável encontro gravado no salão principal de minha memória. E posso lhe assegurar, que já tentei inúmeras vezes, jogar essa lembrança no porão. Mas, como não consigo, irei descrever nesse pequeno papel o que vivi.
Era a madrugada que precedia a minha manhã natalina, que tinha o dever de ser especial como todas as outras que eu já tinha vivido.
Havia acordado totalmente empolgada, mas não sai da cama, estava à espera dos feixes de luzes entrarem pela única janela de meu pequeno e estreito quarto. A escuridão pairava, e o vento, por sua vez, estava vivo entoando suas canções misteriosas, em alguns momentos ele batia violentamente contra a janela, fazendo um barulho atroador, e em outros, simplesmente se acalmava, sentenciando o silêncio.
E eu, com os meus 06 anos de idade, estava presa a agonia de não ver a luz entrar em meu quarto, e para aliviar o tormento me concentrava em sonhar e imaginar quais seriam os pratos doces que minha mãe havia preparado para este dia. Fiquei tão presa aquele devaneio que quando dei por mim o sol já havia nascido junto com uma densa chuva. Então, prontamente, me coloquei de pé, e foi nesse momento que vi o defunto. Estava no canto de meu quarto. Estava pálido, sem sua alma, com os olhos fixo no nada! Por um momento tentei recusar a imagem que estava diante de meus olhos, tentando negar o fato, me agarrei à avidez daquele corpo estar apenas dormindo. Mas não! Era real, estava realmente morto! A sua expressão era tão vazia que chegava a gelar meu coração. Um calafrio subiu pela minha espinha e assombrava-me tanto a idéia de saber que aquele corpo sem vida esteve à noite inteira ali. Tão perto de mim.
O medo havia me deixado imóvel, mas em um breve lampejo, consegui tomar controle de meus atos e pulei para debaixo do meu cobertor e gritei pela minha mãe. Eu