12º ano- temáticas (síntese)
Fernando Pessoa
Definiu-se a si-próprio como um “novelo embrulhado por dentro” e cabe-nos a tarefa de tentar desembrulhá-lo ao analisar a sua poesia. Figura máxima do Modernismo português, também o fingimento poético foi uma nova expressão de arte, produto de uma forte elaboração mental onde o sentimento dá lugar à imaginação. A poesia torna-se para ele a emoção intelectualizada, que deixa de ser sentida para ser pensada, o fingimento aparece pois como teoria poética essencial – o coração fornece emoções e entretém a razão. O sentir fica para quem lê, o pensar é o trabalho do poeta.
E não se pense que é um trabalho fácil, porque a avaliar também pelas suas palavras, o pensar faz-lhe “doer a alma”, provoca-lhe angústia e dor, tanto maiores quanto mais ele pensa. A consciência do mundo, das injustiças e dos males que o invadem, tornam-no infeliz e não o deixam gozar um minuto de paz. Daí o seu profundo desejo de ser como a ceifeira que canta e não parece ter consciência da pobre vida que leva, ou do gato que se limita a seguir as leis da vida e não pensa. É um desejo impossível, uma vez que ele não prescinde de ser lúcido e consciente e por isso mesmo está condenado a ser infeliz
Motivo de desespero e dor é o facto de se sentir múltiplo, constantemente diferente do que era e em permanente mudança. Isto provoca-lhe desconforto e desconhecimento de si e ao tentar analisar-se, sente-se alheio a si próprio e compara-se a um livro que vai desfolhando página a página. É no sonho que procura mitigar alguns dos seus males mas também aí depressa cai na realidade e vê-a ainda mais dura. Impotente para mudar o rumo da sua vida, cansado de viver nesta angústia e neste tédio constantes vai recorrer às recordações da infância, sentindo nela o paraíso perdido que quer recuperar. Em vão. Recorda então a música velha e distante que lhe traz saudades ou as badaladas do sino da sua aldeia. Lembra-se da criança que foi e só agora tem consciência de