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DA CIDADE CONTEMPORÂNEA
Manoel Rodrigues Alves
Universidade de São Paulo
A idéia universal de cidade como bem público, espaço por excelência do exercício da cidadania, lugar do convívio, do conflito e do congraçamento entre pessoas, núcleo de produção do conhecimento, vem cedendo espaço para uma outra idéia de urbanidade. Constata-se o deslocamento das atividades cívicas em direção aos espaços privados de caráter público, processo assimilado naturalmente pela sociedade, que tem como conseqüência a produção fragmentária do espaço urbano e a transformação da relação público / privado.
Com o debate em arquitetura definido por mediações conceituais imprecisas, a produção da paisagem urbana encontra-se submetida à lógica do lucro e do consumo, decorrente de uma lógica do terciário que assume a responsabilidade do desenho da cidade, numa cidade da estetização e gentrificação. O espaço urbano contemporâneo tanto cria novas contigüidades, avizinhando o que é diverso, quanto explicita, e até – por meio de estratégias de mercado – cria paisagens materiais e políticas, econômicas e étnicas, que a rigor não se articulam umas às outras, mas se excluem. Pensar a cidade hoje demanda transformarmos uma estratégia comercial de agregação de valor cultural de áreas particulares em uma estratégia cultural de criação de estruturas auxiliares de maior significância cultural e social.
A investigação da espacialidade da cidade contemporânea requer posturas distintas, sensíveis a especificidade da paisagem urbana, a novas questões de sua conformação e a uma nova realidade técnico social de uma sociedade fortemente midiatizada, que considerem a necessidade de superação da distinção clássica entre público e privado - uma vez que a mesma suprime a pluralidade social contemporânea e o universo legítimo de contestação dos espaços sociais. Para tanto, buscando contrapor-se a produção de não-lugares provisórios, sem concretude real e sem identidade,