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Voltemos, então, ao texto do diálogo O Banquete, ou O Simpósio[1] para os portugueses.
Nossa leitura d’O Banquete vai se desenvolver em três níveis: 1) estrutura; 2) jogo tético, considerando o que cada personagem defende individualmente; 3)síntese platônica, i.e., o modo como os elementos de cada discursos são recuperados e reestruturados no discurso socrático. Dessa leitura devemos esperar um esclarecimento sobre a posição platônica quanto ao um dos temas mais controversos na sociedade grega: o Eros (Amor-Desejo) e a Erótica (arte de amar e ser amado).
Desde já antecipo que a Erótica dá lugar a duas “ciências” diferentes: a ciência do amante (aquele que ama) e a ciência do amado (aquele que é objeto do amor). O Banquete se ocupa apenas da primeira, enquanto que a segunda é tratada por Platão na primeira parte do diálogo Fedro. Isso se deve ao fato de que, como veremos, há duas propriedades fundamentais do Eros: prima, o amor é sempre transitivo, i.e., não se ama, simplesmente; ama-se alguém ou alguma coisa;secunda, a relação erótica é, necessariamente, unívoca: ou se é amante, ou se é amado; não se pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.