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9336 palavras
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Contribuições do cristianismo para o acervo temático da filosofiaW. Pannenberg
A teologia cristã, de fato, acolheu idéias filosóficas, mas o cristianismo, por sua vez, também modificou a consciência filosófica. Isso aconteceu pelo fato de a fé cristã ter dado acesso a uma nova compreensão da realidade, tanto da realidade do mundo e de sua origem divina quanto da realidade do ser humano. Certos aspectos dessa nova compreensão de ser humano e de mundo tornaram-se temas não só da teologia cristã, mas até já da reflexão filosófica, sem que se estivesse sempre consciente de sua origem cristã. Eles se tornaram, simplesmente, partes integrantes da consciência geral a partir da experiência. Entre estes estão a contingência do mundo e de todas as suas partes, uma série de aspectos da individualidade do ser humano, assim especialmente o seu ser-pessoa, ademais a descoberta da história como um processo irreversível, aberto em direção ao futuro, a valoração positiva do infinito como determinação da natureza da origem divina do mundo e, por fim, não a própria fé cristã na encarnação, mas certamente uma série de efeitos decorrentes dessa fé, especialmente para a compreensão da liberdade humana e para os conceitos do amor e da reconciliação. É verdade que, em todos esses casos, os temas em questão não afloraram com o cristianismo de modo totalmente repentino e novo à consciência dos seres humanos. Isso já fica evidenciado em sua história terminológica prévia, que remonta a raízes pré-cristãs. No entanto, foi o espírito do cristianismo que imprimiu a cada um desses temas seu cunho decisivo.
A contingência do mundo e de todo existente finito
Para a Antigüidade grega, a existência do mundo era considerada, predominantemente, como temporalmente ilimitada, ainda que se atribuísse a Zeus a fundação de uma nova ordem entre os deuses e assim também no mundo (Hesíodo. Teogonia.
73s). Segundo Heráclito, o cosmo sempre existiu e sempre existirá: “Este mundo, o mesmo de todos os seres,