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4230 palavras 17 páginas
Imaginário Social, Menoridade e Apartação
Fernanda Telles Márques [FernandaTellesM]

I - Revisitando a Descoberta da infância

Se espiarmos as civilizações de padrão ocidental através da fresta deixada a descoberto pela história das mentalidades, constataremos que nem sempre as crianças receberam um tratamento diferenciado em relação aos demais membros da coletividade. Estudos como o de Ariès (1989) mostram que ao longo da história social da família e da infância é possível identificar o final do séc. XVIII como marco da transformação do que antes era visto como quase gente, em "criança": uma categoria social específica, desenvolvida a partir das noções burguesas de "pudor" e de "decência" como parte do mesmo contexto político-ideológico que defendia a necessidade da oposição entre o público e o privado.
Desde então, várias transformações foram "privatizando" também a família, tornando-a idealmente nuclear. A moradia, por exemplo, deixou de ser um lugar de realização do trabalho que, por sua vez, passou a ser socialmente reconhecido apenas mediante sua efetivação no espaço público, cuja utilização ficou restrita às chamadas "classes perigosas" e ao adulto-macho da ascendente espécie burguesa.
Em referida ocasião já seria possível observarmos, nas mais simples relações cotidianas, leituras de mundo muito apropriadas ao modo de produção que se firmava: a esposa do "chefe da família" transfigurava-se em "dona de casa", enquanto sua prole, cada vez mais enaltecida como "futuro da sociedade", virava um investimento no qual se aplicavam, com grandes e evidentes expectativas de rentabilidade, os capitais cultural e econômico das instituições sociais tradicionais.
Não causa estranheza que aquele tenha sido também um período de severa regimentação dos contatos físico, emocional e social, logo, uma nova fase de intensa repressão da espontaneidade, das crenças e dos desejos individuais. Considerando a origem histórica subalterna da emergente classe dominante –

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