0000000
‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’: entre a história e a ficção, um “Romance” crítico do conhecimento histórico*
Luiz Carlos Villalta
Departamento de História - UFMG
Fiz um filme pretendendo atingir todas as platéias, de todas as idades [...] O cinema, há dois anos, acabara no Brasil por má administração dos orçamentos e porque havia pessoas que só se propunham a filmar com orçamentos milionários. Meu objetivo com Carlota Joaquina foi mostrar que dá para fazer cinema no Brasil. Que tem público, sim, e que os filmes se pagam, sim. Escolhi um tema histórico porque sempre fui apaixonada pela História. E o cinema é uma linguagem forte, que pode trazer, além de entretenimento, também conhecimento. Acredito que a História é a ficção do Homem. É o grande romance da humanidade. Ela nos diz que tudo está em movimento e que o que importa não é um homem, personalidade histórica, ou um grupo de pessoas. O que é importante é o Homem – isso a História nos diz e pode ensinar mais efetivamente por meio do cinema. Os homens morrem, o Homem não. Um povo só pode compreender o seu presente a partir do conhecimento do que foi o seu passado. Com essa idéia na cabeça é realizei ‘Carlota Joaquina – Princesa do Brazil’, Carla Camurati (Carla Camurati:
Motivo da indicação, 1996).
No trecho da entrevista em epígrafe, dada por Carla Camurati a Prêmio Cláudia, em 1996, a cineasta expõe o projeto cinematográfico e histórico subjacente a seu filme Carlota Joaquina – Princesa do Brazil. Primeiramente, explicita o caráter político-estratégico comercial de sua iniciativa: filmar sem
“orçamentos milionários”, mostrando que “dá para fazer cinema no Brasil” e, simultaneamente, atingindo
“todas as platéias, de todas as idades”. A esse propósito, Camurati alia claramente um outro, igualmente significativo: o cinema, “linguagem forte”, traz “entretenimento” e também “conhecimento” e, por conseguinte, possui um caráter pedagógico. A pedagogia cinematográfica, combinada