Ética
da interdisciplinaridade
Félix Guattari
Todos estão conscientes de que a complexidade dos objetos de pesquisa, no domínio das ciências humanas e do meio-ambiente, exige uma abordagem interdisciplinar. Freqüentemente, no entanto, o encontro das disciplinas não basta para que sejam eliminadas as fronteiras entre as problemáticas e modos de expressão presentes. São enviados sinais de uma área a outra, sem que uma comunicação mais profunda aconteça. Como estabelecer uma ponte entre os ecossistemas vivos? Trata-se de um empreendimento de porte, já que determina a possibilidade de qualquer eficácia real. A ecologia científica aplicada ao meio ambiente permanecerá impotente, se não acarretar novos comportamentos sociais e políticos e estes, por sua vez, vegetarão no imobilismo e no conservadorismo, sem uma profunda transformação das mentalidades.
A questão da interdisciplinaridade se desloca do domínio cognitivo para os domínios sociais, políticos, éticos e até mesmo estéticos. Isto porque a ecologia do visível está inseparavelmente ligada a uma ecologia do virtual, às problemáticas de escolhas individuais e coletivas, aos universos de valores em evidência ou em desaparecimento.
As ciências humanas, sob a égide de um paradigma científico, ou mais exatamente cientificista, se esforçaram por eliminar sistematicamente os fatores subjetivos de responsabilidade e engajamento. Na verdade, o que caberia aqui questionar seria um determinado status formal da objetividade nestes registros. A visão que se tem de um estado de coisas “normal” depende sempre de um ponto de vista normativo. Descrever a vida urbana, neste fim de milênio, observar em que direção ela caminha, implica numa escolha de valores com relação ao bem social, à posição do imaginário segundo a mídia, à relação entre o natural, o cósmico e o artificial, o maquinal. Isto não quer dizer que devamos permanecer aqui num terreno