Ética: questões e problemas contemporâneos
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cientistas, o aparecimento de novos modelos de ciência exigem valores e esclarecimentos e, inclusive, de orientação por parte da sociedade global. A denominação de “giro ético” sintetiza, no meu entender, a busca de um projeto de convivência novo, de outros costumes e hábitos de pensamento e de ação, de um lugar próprio (ethos) construído por todos os homens e para todos os homens, até mesmo os seres que habitam e habitarão este “planeta azul.”11 As dúvidas relativas a esta busca – utópica, por certo – não estariam desvirtuando a ética. Em efeito, a questão está em saber se as éticas surgidas a posteriori, bem como a raiz dos conflitos que foram aludidos acima, possuem uma função crítica e construtiva real. A necessidade é saber se elas não passam de algo simplesmente tranqüilizador e, em decorrência, virtual, ou se já não é tarde para uma reação deste tipo. Tudo isso incita a uma reflexão contemporânea.12 A noção habitual de “ética aplicada”, geralmente entendida como “a aplicação sistemática e prática de critérios ético-filosóficos às decisões humanas significativa”, se baseia em pressupostos que começam a ser vislumbrados na confusão gerada pela expressão “aplicada”. Em sua primeira acepção, este é o infinitivo flexionado do verbo “aplicar”, com o significado de “colocar uma coisa em contato com outra ou sobre outra”. Tanto para o caso do espanhol, como nas línguas romanas e no inglês, este verbo provém do verbo latino applicare, equivalente na época clássica a “abordar, dirigir-se a, apoiar” e, mais tardiamente, também a “acrescentar” (Ernout; Meillet, 1957: 514 s).
Qualquer consideração demasiado rápida dessa etimologia pode conduzir à idéia errônea de que a “ética aplicada” seja mera “aplicação” (um procedimento mecânico) de princípios gerais, normas valores e/ou modelos de conduta já conhecidos, provenientes de alguma ética filosófica ou teológica a situações e casos