O valor afetivo do material absor o de uma presen a ausente
1Camila Medeiros Pravato
É comum um objeto, peça de roupa, ambiente ou uma imagem remeter a recordações de momentos ou a pessoas. Algo aparentemente material pode ter valores para determinadas pessoas que vão além do capital. Dentro das religiões, a utilização de signos para aproximação de entidades é bastante presente, como por exemplo, imagens de santos, crucifixos, medalhas, etc. Estes elementos fazem com que o fiel sinta a presença e “converse” com determinada santidade. Objetos são também depósitos de lembranças, principalmente as roupas, que carregam as marcas e a história de quem a usou, como defende Peter Stallybrass em “O casaco de Marx: roupas, memória, dor”. Segundo o autor, os corpos morrem, mas as roupas permanecem vivas. Elas carregam o cheiro, o suor e a forma. Sustentam gestos e recebem a marca humana. Absorvem a “presença ausente” de alguém que já se foi. Peter faz uma crítica ao funcionamento do capitalismo equivocado de Marx, que apropria o conceito de fetichismo da antropologia do século XIX e aplica às mercadorias. Desta forma, o apego ao material torna-se constrangedor.
No capítulo “A vida social das coisas”, Peter Stallybrass relata as lembranças que tem de um falecido amigo, através dos objetos pessoais do mesmo, principalmente a jaqueta que recebera da viúva como herança. O autor associa sua experiência com o relato da poeta e artista têxtil Nina Payne, sobre a maneira como ela manuseava as roupas de seu marido após a morte. A artista conta que podia sentir o cheiro do esposo, como se ele ainda estivesse lá, “dependurado no armário, na forma de seu corpo impresso sobre a roupa”.
Da mesma forma que a veste aproxima Peter Stallybrass de seu amigo e Nina Payne, de seu marido, no curta metragem “The Hand” de Wong Kar Wai, os vestidos aproximam o alfaiate Xiao Zhang de sua amada, Miss Hua. Enquanto que para a poetisa e para o escritor é o cheiro que trás a presença, para o alfaiate