O TRABALHO DO ANTROP LOGO
OLIVEIRA, R. C. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: O trabalho do antropólogo. 2.ed. SP: UNESP/Paralelo 15, 2000. p.17-36.
Pareceu-me que abordar um tema freqüentemente visitado e revisitado por membros de nossa comunidade profissional não seria de todo impertinente, posto que sempre valerá pelo menos como uma espécie de depoimento de alguém que, há várias décadas, vem com ele se preocupando como parte de seu métier de docente e de pesquisador; e, como tal embora dirija-me especialmente aos meus pares, gostaria de alcançar também o estudante ou o estudioso interessado genericamente em ciências sociais, um a vez que a especificidade do trabalho antropológico - pelo menos como o vejo e como procurarei mostrar-em nada é incompatível com o trabalho conduzido por colegas de outras disciplinas sociais, particularmente quando, no exercício de sua atividade, articulam a pesquisa empírica com a interpretação de seus resultados. Nesse sentido, o subtítulo escolhido — é necessário esclarecer nada tem a ver com o recente livro de Claude Lévi-Strauss, ainda que, nesse título, eu possa ter me inspirado, as substituir apenas o lire pelo écrire, o “ler” pelo “escrever”.
Porém, aqui, ao contrário dos ensaios de antropologia estética de Lévi-Strauss, trato de questionar algumas daquelas que se poderiam chamar as principais “faculdades do entendimento” sócio-cultural que, acredito, sejam inerentes ao mo& de conhecer das ciências sociais. Naturalmente, é preciso dizer que falar, nesse contexto, de faculdades do entendimento - não estou mais do que parafraseando, e com muita liberdade, o significado filosófico da expressão “faculdades da alma”, como Leibniz assim entendia a percepção e o pensamento. Pois sem percepção e pensamento, como então podemos conhecer? De meu lado, ou do ponto de vista de minha disciplina- a antropologia -, quero apenas enfatizar o caráter constitutivo do olhar, do ouvir e do escrever, na elaboração do