O romantismo e a invenção do eu
A produção poética ocidental está marcada, segundo Friedrich (1978), por duas obras do século XVIII, anunciando questões que não mais deixarão de ser retomadas. Os autores são Denis Diderot e Jean-Jacques Rousseau. Em comum, eles também possuem uma história de amizade e influências mútuas. Quando o jovem Diderot é preso por escrever uma irônica "Carta sobre os cegos para uso daqueles que veem", seu amigo Rousseau vai visitá-lo na prisão. No trajeto, acidentalmente, lê o anúncio de um prêmio a ser concedido a quem respondesse se a restauração das artes e das ciências purificava a moral. Rousseau escreve o ensaio Discurso sobre as ciências e as artes e ganha o prêmio, tornando-se um escritor célebre. Sua tese acusa a civilização de corromper o homem através das ciências e das artes, e prega a volta à natureza. Uma indiferenciação proposital entre fantasia e realidade marca em Rousseau uma ruptura com a tradição literária. A obra rouseauniana sustenta o caráter radical da incomunicabilidade, prenunciando o modo romântico de existir. A militância por uma grande reforma social, seu engajamento com a música e numerosas doenças afastam Rousseau pouco a pouco dos amigos, inclusive Diderot.
Com uma obra cujo foco seria a ideia e não os conteúdos, Diderot promove a "decisiva preeminência da magia linguística sobre o conteúdo linguístico" (FRIEDRICh, 1978, p.27). Filósofo enciclopedista, faz da literatura um ofício com características muito peculiares. Uma de suas invenções é a introdução de uma discussão metaliterária com o leitor e suas expectativas, em Jacques, o fatalista. Ali, vemos Diderot desconstruir com maestria a narrativa linear e estabelecer descontinuidades, ironias e um debate entre narrador e leitor sobre os temas fatalismo e liberdade. Eis um dos trechos destacados por Todorov para exemplificar o papel do verossímil na arte: "Vão pensar [...] que vai haver uma coisa sangrenta, pancadaria e tiros, e só de mim dependeria que