O repertório de expressões faciais humanas revela as pistas deixadas pelos mentirosos
Revista Scientific American - por Siri Schubert
A expressão de um rosto muitas vezes dispensa palavras. Alegria ou tristeza, medo ou raiva, decifrar expressões faciais é um dos exercícios mais corriqueiros do ser humano, tanto que quase sempre o fazemos sem perceber. A convivência social seria impensável sem essa habilidade. Há mais de quatro décadas o psicólogo americano Paul Ekman, da Universidade da Califórnia de São Francisco, se ocupa do estudo da mímica facial humana. Aos 73 anos e aposentado há cerca de três, ele continua ajudando especialistas da ClA no combate ao terrorismo. Mas é bastante consciente dos limites de seus métodos: "Ofereço apenas uma ferramenta descritiva".
Sob as fartas sobrancelhas, seus olhos observam atentamente cada franzir de minha testa, cada movimento dos meus lábios. "O senhor pode ler pensamentos?", pergunto. "Não, posso no máximo perceber como você está se sentindo, mas não o que está pensando." E explica a diferença: "O medo se manifesta sempre da mesma forma, não importa se você teme que suas mentiras sejam descobertas ou que não acreditem em suas verdades".
Em situações como essa, pode ocorrer o que Ekman chama de "equívoco de Otelo". No drama de William Shakespeare, o protagonista interpreta o medo no semblante de Desdêmona como sinal de traição, e a mata baseado na percepção equivocada. Ekman quer ajudar a evitar enganos semelhantes por parte de agentes secretos. "Prender um culpado é bom, mas é igualmente importante diminuir o número de pessoas postas sob suspeita injustamente", ressalta.
Quando ele estudava psicologia na Universidade de Chicago, nos anos 50, as emoções eram consideradas uma área marginal da pesquisa científica. Muitos acadêmicos acreditavam que o mundo das emoções era pouco acessível ao conhecimento científico - ou, pelo menos, não tão interessante quanto, por exemplo, os mecanismos da