O que faz do brasil,brasil
Todas as festas — ou ocasiões extraordinárias — recriam e resgatam o tempo, o espaço e as relações sociais. Nelas, aquilo que passa despercebido, ou nem mesmo é visto como algo maravilhoso ou digno de reflexão, estudo ou desprezo no quotidiano, é ressaltado e realçado, alcançando um plano distinto. Assim, é na festa que tomamos consciência de coisas gratificantes e dolorosas. Que não podemos comparecer porque não somos da mesma classe social; que não podemos desempenhar papel importante porque não somos daquela corporação; que somos bons dançarinos e que valsamos com graça e leveza, pois na festa alguém assim nos disse; que aquela moça é realmente linda porque assim se apresentou no baile de formatura; que nosso amigo é excelente orador porque foi a festa que o destacou como tal. Como se observa, são inúmeras as situações em que a festa promove a descoberta do talento, da beleza, da classe social, do preconceito e da alegria. Não seria possível esgotá-las. Mas posso distinguir, e assim devo proceder, as festas da ordem daquelas que promovem a “desordem” ou a orgia, que fica no limite do crime e da revolta.
Sustento que, no caso brasileiro, todas as solenidades permitem ligar a casa, a rua e outro mundo. Só que cada uma delas faz essa ligação de modo específico e a partir de posições diferentes. O carnaval liga casa, rua e outro mundo querendo e propondo a abertura de todas as portas e de todas as muralhas e paredes. Os ritos cívicos e religiosos — as festas da ordem por excelência — fazem o mesmo, mas suas propostas são diferentes. De fato, nos carnavais e orgias, o propósito