O motim no bounty
Em 1789, o duelo entre um nobre oficial e um comandante plebeu nos mares do Taiti forjou o enredo de uma das tramas mais famosas da Marinha britânica
Henri W. Arthur | 17/09/2010 15h50
A tranquilidade era quase assustadora. Numa das cabines do Bounty, o navegador John Fryer anotou no diário: "Tudo muito quieto a bordo". Com proa grossa, popa quadrada, três mastros e 220 toneladas, a embarcação era, na definição naval da época, um cúter, um navio de apoio. Com 95 pés (ou 29,40 m), era visto com afeto pelo tenente que o comandava, William Bligh. O "meu pequeno navio", como se referia a ele, estava naquele ano de 1789 entretido na missão de colher mudas de fruta-pão no Taiti, que serviriam de alimento a escravos nas colônias britânicas do Caribe. Uma viagem sem grandes expectativas para a Marinha real, um oficial sem muito destaque, um navio sem pompa. Passaria batido se, pouco antes do amanhecer de 28 de abril, no meio do Pacífico, um grito do comandante não irrompesse no ar dramaticamente: "Assassinato!"
Vestindo apenas uma camisola curta (e sem nada por baixo), William Bligh foi arrancado de sua cabine por quatro homens armados, Fletcher Christian à frente. Ele era o segundo-em-comando, membro de uma família tradicional e até então encarado com bons olhos por seu superior. Transtornado, conduziu Bligh ao convés empunhando uma baioneta. Mandou descer uma lancha de 7 m, na qual o comandante e mais 18 homens foram embarcados, com mantimentos suficientes para cinco dias. Assim, Christian, agora à frente do Bounty, poderia voltar ao encantador Taiti, à vida idílica de mulheres, tatuagens e música. O capitão foi deixado à própria sorte em um barco precário. "Eles estavam perto de Tofua (pequena ilha no reino de Tonga) e tinham todo o necessário para sobreviver", diz John Christian, descendente direto de Fletcher. Os desdobramentos daquele dia fizeram do motim no Bounty o mais famoso levante da história da mais importante Marinha de todos os