o mau uso de Darwin
Portanto, antes de nos debruçarmos sobre as atrocidades cometidas injustamente em seu nome ou em nome de suas ideias, é preciso minimamente expor o núcleo do pensamento darwiniano sobre a evolução biológica e o lugar do homo sapiens e da sociedade dentro desta. A quem deseja explicar razoavelmente Darwin basta, às vezes, seguir a ordem de exposição que ele mesmo desenvolveu na sua obra mais conhecida: A origem das Espécies. De fato, tudo começa pela variação.
Animais e plantas variam em suas características e capacidades sob a influência das condições do ambiente. A variação é particularmente sensível nas condições da domesticação, que sempre foi para Darwin um observatório privilegiado da mudança morfológica, comportamental e instintiva (DARWIN, 2010, p 33). De maneira geral, os organismos domesticados variam mais que aqueles que vivem em condições naturais. Se Darwin ignorava, ainda, as causas profundas da variação, ele atribuía, contudo, sua causa direta a alterações do sistema reprodutor. A variação parece sobrevir “por acaso”, mas Darwin destaca que o “acaso” não é mais do que uma rede de cadeias causais muito complexas para serem desveladas e conhecidas.
A variação procede mais do organismo do que do ambiente, embora ela possa ser ativada por uma mudança deste último (a domesticação é uma forma