O jogo de truco .. teoria contigencial
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JOGO DE TRUCO: O BLEFE NA EXISTÊNCIA COTIDIANA NO TRABALHORESUMO: este trabalho discute o jogo de truco como elemento que permitiria a própria existência dos sujeitos jogadores ao tornar suas realidades minimamente suportáveis. O jogo é percebido na literatura acadêmica como sendo um elemento essencial para a atividade e socialização humana. No presente trabalho utilizamos uma abordagem que o trata como um mecanismo de evasão do real. Isso exige compreender o jogo como sendo um intervalo na vida cotidiana; intervalo constituído por espaço, tempo e regras definidas. A evasão do real é aqui tratada como estritamente necessária ao sujeito, como sendo uma função vital tanto para o indivíduo quanto para a sociedade ao aliviar as imposições paramétricas do social. Evasão, esta, que gera conforto e alívio e, portanto, minimiza os danos decorrentes dos conflitos inerentes da diferença entre os desejos do eu e os ditames sociais. Estudamos as dimensões simbólicas de um jogo de truco que acontece há cerca de 23 anos em uma organização empresarial. Jogavam entre seis e doze pessoas, dos mais variados níveis hierárquicos – do “peão do chão de fábrica” ao “vice-presidente da empresa”. A metodologia de estudo utilizada foi a etnografia em organizações; a qual recebeu auxílio metodológico da observação participante, do diário de campo e de entrevistas em profundidade. A etnografia aconteceu ao longo de 12 meses durante o período de trabalho da empresa estudada (de 7:40 às 16:40). Nos dados da pesquisa destaca-se o “chefe dá tapa em peão e peão dá tapa em chefe”. A evasão do real de trabalho acontece principalmente através de brincadeiras, tais como a “cócegas x chutes”; da subversão das barreiras hierárquicas da empresa ocasionada pela hierarquia construída dentro do jogo; e pela possibilidade de alguns jogadores poderem ser no jogo aquilo que desejariam ser na sua própria realidade. Além disso, percebe-se no jogo mecanismos de alívio das pressões da realidade de trabalho.