O FIM DO "LAISSEZ-FAIRE" (1926O FIM DO "LAISSEZ-FAIRE" (1926)
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O FIM DO "LAISSEZ-FAIRE" (1926)(http://www.politica.pro.br/Cursos/curso_crises_aula3.htm)
*John M. keynes
I
A disposição com respeito às questões públicas, que por conveniência denominamos individualismo e laissez-faire, originou-se de muitas fontes de pensamento e de diferentes impulsos dos sentimentos. Durante mais de cem anos nossos filósofos nos governaram porque, por um milagre, quase todos concordavam, ou pareciam concordar, sobre essa questão. Ainda hoje, não deixamos de dançar a mesma música. Mas, paira no ar uma transformação. Apenas ouvimos indistintamente o que já foram uma vez as vozes mais nítidas e claras que jamais instruíram a humanidade política. Finalmente, a orquestra de diversos instrumentos, o coro de sons articulados, está se diluindo na distância.
No fim do século XVII, o direito divino dos reis foi substituído pela liberdade natural e pelo contrato social; e o direito divino da Igreja, pelo princípio da tolerância e pelo ponto de vista de que uma igreja é "uma sociedade voluntária de homens" que se reúnem de maneira "absolutamente livre e espontânea". Cinqüenta anos mais tarde, a origem divina e a voz absoluta da moral deram lugar aos cálculos da utilidade. Com Locke e Hume estas doutrinas deram origem ao individualismo. Os direitos individuais presumidos pelo contrato social, a nova ética, que não passava de um estudo científico das conseqüências do amor-próprio racional, colocavam o indivíduo no centro do mundo. Hume dizia que
"a única dificuldade da Virtude é o justo Cálculo e uma firme preferência pela maior Felicidade".
Essas idéias convergiam para as noções práticas dos conservadores e dos advogados. Elas forneceram um fundamento intelectual satisfatório para os direitos de propriedade e para a liberdade do seu titular fazer o que desejasse consigo e com o que era seu. Essa foi uma das contribuições do século XVIII ao clima que ainda respiramos.
O objetivo de promover o indivíduo era a deposição do monarca e da Igreja; o