O close do feio: a fotografia e suas esferas grotescas
O close do feio: A fotografia e suas esferas grotescas
Belo: que tem forma perfeita e proporções harmônicas, agradável aos sentidos, elevado ou sublime. Feio: de aspecto desagradável, indecoroso, vil. Existem nessas duas palavras, oito letras e vários significados, o contraste que rege a estética. O belo e o feio, antagonismo tão sobressalente aos nossos olhos, torna-se ainda mais perceptível sob as lentes das câmeras fotográficas. A beleza, que poderia passar, antes, despercebida, torna-se o prato principal da arte visual. Conclui-se, a partir dessa supervalorização dos padrões estéticos gregos, da beleza helenística, que o que atrai as pessoas é sempre o belo, o padrão harmônico dos traços e das formas. Conclusão essa que, muitas vezes, pode estar errada. O que é diferente, pode-se dizer até mesmo grotesco, ou errado, é capaz de exercer uma atração infinitamente maior do que a costumeira beleza frente à olhos mais sensíveis. Existem na fotografia alguns casos, embora um tanto escassos, de trabalhos que chamam a atenção do mundo, não por sua perfeição, mas pela mensagem que trazem, pela verdade, crítica, ou originalidade da foto. Um claro exemplo disso consiste na fotografia de uma criança sudanesa muito desnutrida que, ao caminho de um centro de alimentação, para de caminhar em virtude do cansaço, quando um abutre para perto dela, e ali fica, à espreita. Na fotografia pode-se ver o abutre, com os olhos fixos na criança, e ela encolhida, com a cabeça entre as mãos – embora não se possa ver o seu rosto, a impressão que temos é a de que ela está chorando. Pode-se dizer que não era uma fotografia agradável ao olhar. Tirada pelo fotógrafo sul-africano Kevin Carter, ela foi publicada na primeira página do New York Times, ganhou o prêmio Pulitzer em 1994, e chocou o mundo. Situação semelhante ocorre com o trabalho do fotógrafo