O Castelo De Faria
A breve distância da vila de Barcelos, nas encostas do Monte de Franqueira, vê-se ao longe um convento de franciscanos. Aprazível é o sítio, sombreado de velhas árvores. Sentem-se ali o murmurar das águas e a brisa suave do vento, harmonia da natureza, que quebra o silêncio daquela solidão, a qual, para nos servirmos de uma expressão de monge da ordem da Cister, com a saudade de seus horizontes parece encaminhar e chamar o espírito à contemplação das coisas celestes.
O monte que se alevanta ao pé do humilde convento é formoso, mas áspero e severo, como quase todos os montes do Minho. Da sua coroa descobre-se ao longe o mar, semelhante a mancha azul entornada na face da terra. O espetador colocado no cimo daquela excelência volta-se para um e outro lado, as povoações e os rios, os prados e os rochedos, os soutos e os pinhais apresentam-lhe o panorama variadíssimo que se descobre de qualquer ponto elevado da província de Entre-Douro-e-Minho.
Este monte, ora ermo, silencioso e esquecido, já se viu regado de sangue: já sobre ele se ouviram gritos de combatentes, ânsias de moribundos, som agudo de habitações incendiadas, assobiar de setas e estrondo de máquinas de guerra. Claros sinais de que ali viveram homens; porque é com estas balizas que eles costumam deixar assinalados os sítios que escolheram para habitar na terra.
O Castelo de Faria, com suas torres e aberturas no parapeito das muralhas de um castelo, por onde os defensores viam o inimigo, com seu muro anterior às muralhas usado para defesa do fosso e o fosso, com postigos e alçapões ferrados, batalhou aí como dominador dos vales vizinhos. Castelo real da Idade Média, a sua origem some- -se nas trevas dos tempos que já lá vão há muito: mas a febre lenta que costuma