O baú [Crônica]

Sexta-feira, primeiro dia das minhas férias, primeiro dia da minha nova rotina. Claro, eu não tinha nenhum compromisso oficial firmado para poder chamar de rotina, mas era, de todo modo, uma nova vida. Seriam as férias mais importantes da minha vida, sem dúvida. Seriam sim, eu necessitava que fossem.

Às cinco da manhã eu já estava de pé. Já tinha tomado o café e me aprontado. E estava mais que decidido. Na verdade, eu estava mais que atrasado. Há muito tinha se passado da hora de jogar todas aquelas coisas que não me serviam mais no lixo. Sempre fui daqueles que guardam todo tipo de tralhas, velharias e mungangas inúteis. Desses que encontram uma garrafa velha na rua e guardam por achá-la bonita. - Lembro de ter guardado por 10 anos a nota fiscal de um sorvete que comprei e só a joguei fora porque as traças a tinha consumido.

Sendo o início de uma nova história, então que tudo se renovasse.
Comecei pelo meu quarto. Uma caixa de papelão com meus brinquedos favoritos na infância. Oito bolinhas de gude, dois piões, um boneco sem o braço direito e, o meu favorito, um tigre de pelúcia – chamava-se Willy. Perdi toda a manhã brincando com aquelas lembranças. Recordei o meu tempo de criança em que eu não conhecia o significado de trabalho nem palavras difíceis (Tipo anticonstitucionalissimamente, burocracia ou solidão).

Quando me dei conta do tempo passado, não titubeei. Levei minha criança para o quintal dentro daquela caixa e a ateei fogo – Aliás, a caixa foi do fogão que a Rita, minha vizinha, tinha comprado três anos atrás. A guardei pois, na época, achei que ainda poderia ter serventia. Eu já era um homem de 42 anos, duas vezes divorciado. Por que ainda tinha aquilo comigo?

Fui a todos os cômodos recolhendo o lixo que eu guardei por toda a minha vida. “Tarefinhas” do meu Jardim I, LPs, papéis riscados em um só lado, uma pilha de copos de requeijão, etc. A lista era infinita.

E por fim, o Sótão. Evitei o máximo subir aquelas escadas pois já sabia o