O atirador
Um fato que nos comoveu a todos, mas fruto de uma realidade que sabemos existir. Nesse Brasil sem educação, crianças e adolescentes são pequenos verdugos de quem é feio, preto, branco (branquelo), aleijado, homossexual ou diferente em qualquer grau ou natureza.
Tanto não são educados os “normais” para conviver com diferenças como não são preparados os outros para suportar a realidade.
Um dia, alguém explode.
A confusão que se estabeleceu na mente de Wellington é própria de alguém que possível- mente tinha algum distúrbio. Entretanto, é perfeitamente possível admitir que, tendo recebido o tratamento adequado, poderia conviver perfeitamente em sociedade, até mesmo sendo útil, eis que tinha características de ser um rapaz inteligente, acima da média até.
A associação que fez chamando de “infiéis” os que o atacavam e de “fiéis” as vítimas, como ele, do deboche e do achincalhe, foi o recurso que encontrou para dar nomes às partes e compor o cenário que justificaria sua conduta. Dentro dele pulsava a mesma inquietação que incomoda cada um de nós: “Onde estão as autoridades...?”
Naquele dia, quando chegou à escola, já paramentado e equipado, ainda havia esperança.
Foi atendido pela funcionária que já o conhecia: “Você veio para a palestra...?” “Sim, mas eu queria falar com a senhora...” “Agora não dá...vai ter que esperar um pouco...” E virou as costas para ele.
Outra vez Wellington fora abandonado pelo sistema. Ele só queria falar alguma coisa. Dentro dele eclodiu a revolução que trazia e que até aquele momento havia sido contida por um resíduo de ética, educação, respeito e um pouco de medo. A boca amarga e seca , coração acelerado e quase não sentindo as próprias pernas, Wellington retirou-se da pequena sala, virou à esquerda e subiu a escadaria de acesso ao primeiro andar. Ganhou os corredores e entrou na primeira sala à direita. E descarregou sua frustração em forma de vingança.
Eu disse que havia uma esperança até o instante