A ética diminuta contra os escribas da amargura, do ressentimento e da melancolia: Julio Cortazar e Cacaso
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A ética diminuta contra os escribas da amargura, do ressentimento e da melancolia: Julio Cortazar e CacasoIza Quelhas (UERJ-FFP)
Parece que gracias a diversas evocaciones Colón llegó a Guanahani o como se lhamara la isla. Por qué ese criterio griego de verdade y de error? (CORTÁZAR, 1963: 515)
O sentimento de exílio, como desvalor, similar a uma mutilação, é mencionado por Julio Cortazar (1914-1984), em textos de sua obra crítica e ensaística, entre eles, destaca-se “América Latina: exílio e literatura” (2001: 145-163). O desafio para o escritor, afirma Cortázar, consiste em transformar a experiência de negatividade do exílio em algo que, desvencilhado das conotações românticas da experiência exilar, transforme a escrita em prática e ação políticas. Ao assinalar que as ditaduras latino-americanas não têm escritores, mas sim escribas, Cortázar reafirma o lugar de quem repudia a autocompaixão, e valoriza, na vivência do desarraigamento, a revisão de si mesmo que todo artista necessita enfrentar. Formula, então, um generoso convite para não nos transformarmos em escribas da amargura, do ressentimento ou da melancolia (CORTÁZAR, 2001: 152). Tal proposta está vinculada ao modo como considera que um leitor é parte da vida e não do ócio (p. 161), e que “escrever e ler” são maneiras de agir (Idem: 161), o que compreende o modelo laborativo e o existencial, modos também de intervir na vida social. No capítulo intitulado “Julio Cortázar e Clarice Lispector: um saber existencial”, Bella Jozef afirma que “o ato de romper com a ordem oferece um olhar sobre o lado obscuro e indefinível das coisas” (JOZEF, 1986: 210), e cita as palavras de Cortázar ao referir-se aos seus próprios contos fantásticos como “testemunhos de singularização”: “Aperturas sobre el extrañamiento, instancias de una descolocación, desde la cual lo sólito cesa de ser tranquilizador porque nada es