A Way Of Looking At Things
TEXTO DE APOIO
TEORIA DA ARQUITECTURA II . ANO LECTIVO 2012/2013
1º ciclo . 3º ano . semestre IV . 3 etcs
UM MODO DE OLHAR PARA AS COISAS por Peter Zumthor
Em busca da arquitectura perdida
Quando penso a arquitectura, as imagens apropriam-se da minha mente. Muitas estão ligadas à prática e ao ofício de arquitecto. Contêm o conhecimento profissional que venho acumulando ao longo dos anos. Outras têm a ver com a minha infância. Tempos houve em que experimentei a arquitectura sem nela pensar. Por vezes, na minha mão, quase posso sentir um puxador de porta específico, um pedaço de metal em forma do dorso de uma colher. Costumava mexer-lhe quando ia para o jardim da minha tia. Este puxador permanece como um sinal singular de entrada para um mundo de diferentes predisposições e cheiros. Recordo o som da gravilha sob os meus pés, o brilho doce da escada de carvalho encerada, consigo ouvir a porta da frente fechando-se pesada atrás de mim, enquanto caminhava ao longo do corredor escuro e entrava na cozinha, a única divisão da casa verdadeiramente iluminada. Recordando-a, dá a impressão de ser também a única divisão da casa em que o tecto não desaparecia no crepúsculo; os pequenos mosaicos hexagonais do pavimento, vermelhos escuros e tão ajustados entre si que as juntas eram quase imperceptíveis, sentia-os duros e inflexíveis sob os meus pés, e o cheiro a tinta de óleo brotava do guarda-louça da cozinha. Tudo nela estava conforme a uma cozinha tradicional. Nada tinha de especial. Porém, talvez pelo facto de o ser tanto e tão naturalmente tenha permitido gravar a sua indelével memória na minha. Uma atmosfera que, de modo insolúvel, está ligada à minha ideia de cozinha. Agora sinto-me a querer continuar e a querer falar àcerca dos puxadores de porta que vieram depois daquele no portão do jardim da minha tia. Àcerca da terra e dos pavimentos, do asfalto macio aquecido pelo sol, das lajes cobertas pelas folhas