A TEOLOGIA DO SACI PERERE De Luiz Say O
890 palavras
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A TEOLOGIA DO SACI-PERERÊUm dos quadros mais tristes da cristandade é a sua fragmentação absurda. Há provavelmente cerca de cem mil denominações evangélicas no mundo de hoje. Na verdade, a maioria delas é exatamente igual a muitas outras em termos de doutrinas e práticas. Infelizmente, muitos grupos se separam de seus irmãos na fé por motivos pouco cristãos. Todavia, apesar de tantos desencontros semelhantes, é fato que grande parte de nossas divisões teve origem em questões teológicas e doutrinárias.
É claro que teologia e doutrina são elementos fundamentais, dos quais não se pode abrir mão. Se alguém nega a divindade de Cristo, a onisciência de Deus, a salvação pela fé e a singularidade da Bíblia, tal pessoa não pode ser considerada cristã evangélica. No entanto, nossas divisões não se limitam a doutrinas fundamentais. As questões que nos distanciam de nossos irmãos são as menores, de importância secundária, e em alguns casos são questões irrelevantes.
Talvez a razão principal de nosso divisionismo exacerbado seja a “teologia do saci-pererê”. Como todos sabem, o saci-pererê é uma espécie de duende brasileiro criado pela imaginação popular. Ele seria um guardião das florestas, perneta, que assustaria todos os que pertubam o silêncio das matas. O que mais se destaca na figura do saci é o fato de que ele tem um perna só. Naturalmente, a pergunta já surge na mente do amigo leitor: O que isso tem a ver com teologia? Saci e teologia juntos? O que queremos dizer com isso é que boa parte de nossa teologia é uma “teologia de uma perna só”, isto é, uma teologia restrita, que enxerga de modo limitado o quadro amplo da revelação divina.
Uma das razões pelas quais criamos uma teologia limitada assim é a nossa herança racionalista. Os antigos hebreus e cristãos sabiam que a realidade era muito mais complexa do que a nossa razão. Além disso, entendiam que certas dimensões da fé aparentemente distintas não eram necessariamente contraditórias. O problema é que quando nossa