A temática do filme “O Jardineiro Fiel” e a sua relação com a formulação kantiana do imperativo categórico
No “O Jardineiro Fiel” a trama se desenvolve no Quênia, onde fabricantes de remédios, aproveitando-se da miséria e da ignorância, utilizam pessoas como cobaias, relegando a vida humana à condição de subproduto descartável de uma linha de produção voltada exclusivamente para o lucro. “Tessa” e “Justin”, protagonistas que oferecem resistência, igualmente são descartados, porque reduzidos a meros obstáculos no curso da atividade, cuja finalidade econômica é colocada acima da dignidade humana. Em última análise, os próprios destinatários dos medicamentos são descartáveis, porque, ao ignorarem os métodos de produção, ficam reduzidos a consumidores passivos, impossibilitados de um juízo ético acerca do próprio consumo. Em suma, à luz da ética Kantiana, a atividade capitalista assim desenvolvida, longe de representar a ação de homens racionais e livres, revela a conduta de seres escravizados pela causalidade natural, ao nível da animalidade. O homem kantiano, ao contrário, é um ser moral, portanto livre, que age em conformidade com o imperativo categórico ditado pela razão prática, expressão da mais alta humanidade em nós.
A razão prática, afirma Kant, liberta o homem do comportamento meramente causal, abrindo espaço para que o ser moral prevaleça e substitua o egoísmo pelo dever consubstanciado no imperativo categórico. Na ética kantiana, o respeito ao dever se sobrepõe ao interesse pessoal, porque voltado ao interesse geral e fundado na dignidade da pessoa humana. A coincidência entre a vontade pessoal e o dever constitui o que Kant denomina “boa vontade”, isto é, a manifestação da moral em nós.
A personagem “Tessa”, pelo uso da razão e o exercício da liberdade, age como ser moral, levando às últimas consequências, pela boa vontade, o respeito ao imperativo categórico. Posiciona-se contrária aos métodos ofensivos à dignidade humana e nisso