A Tecnologia
Alfred Gell
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concinnitas
A tecnologia do encanto e o encanto da tecnologia
A tecnologia do encanto e o encanto da tecnologia
Alfred Gell*
O autor propõe que a antropologia da arte considere a arte um componente da tecnologia, e seu produto, resultado de um arranjo de técnicas – o conjunto de todas as artes formando a tecnologia do encanto. O objeto de arte personifica os processos técnicos, e aí reside seu poder de fascinação; a tecnologia do encanto fundada no encanto da tecnologia. A magia está na transubstanciação do material por intervenção humana e que transcende as possibilidades de realização do espectador – o artista como técnico oculto, e a obra,
“entidade física que transita entre dois seres”, razão social entre eles e chave para um fluxo de relações posteriores.
No contexto social, o virtuosismo técnico capacita a obra a criar assimetrias nas relações interpessoais e das pessoas com as coisas. Em sociedades sem tradições em
‘belas artes’, a arte surge como ritual político ou meio de trocas (cerimoniais ou comerciais). Nestas, a transformação radical do material agrega valor ao objeto. A atividade técnica é fonte de eficácia no domínio das relações sociais, e a mão-de-obra pode carregar postura mágica. Toda atividade produtiva é medida pelo padrão mágico, o contorno negativo da técnica. Os objetos de arte resultam do encontro de características de objetos produzidos tanto pela tecnologia encantada da arte quanto pela tecnologia encantada da magia. Quando a existência do objeto supera uma explicação, fascinando o espectador, nota-se que sua tecnologia real alcança o ideal mágico.
Antropologia da arte, arte e tecnologia, arte e magia
Introdução: filistinismo metodológico
Comumente ouve-se a queixa de que a arte é um tópico