A Seren Ssima Rep Blica

3673 palavras 15 páginas
A sereníssima República (Conto de Papéis Avulsos), de Machado de Assis
06/06/2013

Publicado primeiramente na "Gazeta de Notícias" em 20 de agosto de 1882, depois incluído no livro Papéis avulsos, "A Serenissima República" é mais um daqueles contos de Machado de Assis em que parece ter, à primeira vista (e só à primeira vista...), um sentido restrito — no caso, "as nossas alternativas eleitorais" — que é logo captado e entendido por qualquer leitor, não obstante a forma alegórica como elas são mostradas.

A história começa com um narrador que pede atenção para uma descoberta da ciência brasileira superior a uma outra, promovida por um sábio inglês, que teria sido publicada em O Globo – jornal republicano e de orientação cientificista. A propósito, John Gledson observa que é bastante provável que o artigo mencionado no conto não tenha existido e conclui que a citação desse artigo é uma sátira contra O Globo. E é considerando o contexto dessa sátira ao cientificismo do jornal O Globo que Machado questiona o materialismo científico em voga na época quando faz o cônego Vargas embasar a sua descoberta numa citação de Darwin e Büchner, reputando-os “sábios de primeira ordem”, mas sem absolver “as teorias gratuitas e errôneas do materialismo”. Frise-se: Machado questiona, mas, como era seu costume, não se posiciona, deixa a questão em aberto. Em um primeiro nível de significação, a narrativa do cônego Vargas pode ser lida como uma tentativa de valorizar a produção científica nacional e como um questionamento do materialismo científico em voga no final do século XIX.

Como não poderia deixar de ser em Machado, o conto é uma crítica: crítica ao processo eleitoral, feita como um discurso de um cônego, que afirma ter achado uma espécie de aranha que fala, e ter criado uma sociedade delas, chamada "Sereníssima República". Ele escolhe o sistema de eleição baseado no da República de Veneza, onde se retirava de um saco bolas com o nome dos eleitos. Este sistema vai sendo

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