A reinvenção do corpo
Pedro Paulo Gomes Pereira**
A expressão queer, utilizada como forma de auto-designação – repetindo e reiterando vozes homofóbicas que assinalam a abjeção daquele que é denominado queer, mas descontextualizando-as desse universo de enunciação, já que se atribui valores positivos ao termo, transformando-o numa forma orgulhosa de manifestar a diferença –, pode ocasionar uma inversão da cadeia de repetição que confere poder a práticas autoritárias precedentes, uma inversão dessa historicidade constitutiva. (Butler, 2002) Algo novo surgiria, então, desse processo, anunciando a irredutibilidade e expressando a incômoda e inassimilável diferença de corpos e almas que teimam em se fazer presentes. A utilização de repertório comum de autores, a luta contra a heterossexualidade compulsória (Rich, 1993), a posição contrária a binarismos fáceis, entre outros, são características que conferem uma aura de transgressão e contestação ao pensamento queer, o que às vezes pode sugerir, numa abordagem apressada, uma integração das posições num todo único e compacto. Não é preciso, porém, muito tempo de leitura para se observar as divergências e as diferenças no interior do pensamento queer. Tratar as posições políticas queer de forma unificada, por exemplo, desconsiderando a especificidade de cada pensamento, retira a força das propostas e das idéias. Distante do contexto de enunciação e sem a atenção devida à singularidade de cada
* Resenha de A Reinvenção do Corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual, de Berenice Bento. Recebida para publicação em setembro de 2006. **
Professor no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, São Paulo. pedropaulopereira@hotmail.com
cadernos pagu (27), julho-dezembro de 2006: pp.469-477.
A teoria queer e a Reinvenção do corpo
2002:59-60)
reflexivo intenso e contínuo –, o que conduziria à repetição pura e simples de teorias sem que haja a