A ponte entre o discurso épico renascentista d’os lusíadas e a perspectiva da modernidade em mensagem: a relação do poema o monstrengo e o gigante do adamastor

Pensar na obra "Mensagem", é antes de tudo, tratá-la enquanto uma epopéia, enquanto um poema constituído de quarenta e quatro poemas, que como afirma Camocardi (1996), “na sua formulação simbólica e mitologia, implica numa concepção supra-histórica, contendo em si uma realidade que excede as coordenadas do tempo e do espaço”. N’Os Lusíadas, a arquitetura narrativa é engenhosamente uma narrativa histórica, montada e imbricada com a história literária, a fim de exaltar o povo lusitano, a partir dos grandes feitos portugueses, ou seja, Camões está contando a sua história literariamente. Pessoa, também está contando a história de Portugal, numa perspectiva da modernidade. Nesse sentido, observa-se que o texto Mensagem pode ser lido como uma ponte entre o discurso épico renascentista d’Os Lusíadas e a perspectiva da modernidade de Pessoa, provocando desta forma, uma dialogicidade entre os textos, “muito mais pelo mito do que pela história”, como afirma Quesado em conferência na Câmara dos Deputados na comemoração dos 500 anos de “descobrimento” do Brasil.
Com base nisso, farei um recorte analítico da obra, desse conjunto de poemas, dada a sua complexidade, as múltiplas correlações e várias significações, pois o objetivo aqui, é apresentar uma breve leitura sobre o poema IV O Monstrengo e a sua relação com o episódio do Gigante Adamastor n’Os Lusíadas, criado como transposição literária, a substituição do verdadeiro pelo verossímil.
Antes de iniciarmos a análise do poema, é importante sinalizarmos o contexto histórico vivenciado em Portugal, dessa época. Depois da morte de Dom Sebastião, várias crises assolaram o império português, período que podemos caracterizar como abandono da monarquia e um reino à deriva. Momento esse, marcado também por várias revoluções e pelo aprofundamento da crise econômica, um cenário em que o rotativismo monárquico irá levar à república entre os anos de 1910. Mesmo assim, após a implantação da primeira república, a situação ainda era de