A poesia metafísica de antero de quental e florbela espanca
“Tu és o Poeta, o grande Assinalado Que povoas o mundo despovoado, De belezas eternas, pouco a pouco”. (O assinalado. Cruz e Souza)
A poesia do cotidiano, segundo Massaud Moisés, contrapõe-se a uma tendência poética dirigida para a resposta às indagações que a consciência do homem formula, um tipo de poesia que nasce do encontro do poeta e do filósofo. Esta tendência poética seria a poesia metafísica, e de acordo com os pressupostos do autor, em Portugal, ela nasceria sempre como uma via de escape à angustia geográfica, histórica, e cultural que vive o homem português. Dentre os poetas portugueses, os poetas metafísicos representariam o melhor da poesia portuguesa em sua constituição histórica, afirma Moisés, e para ilustrar suas afirmações, assinala Camões, Bocage, Fernando Pessoa, e Antero de Quental, entre outros, como os representantes desse gênero de poesia. Mas como distinguir o poeta metafísico do poeta tradicional? Os poetas metafísicos, na concepção de Saintsbury, são aqueles que procuram algo além ou adiante da natureza, como refinamentos do pensamento ou da emoção. É possível concluir, portanto, que a poesia praticada pelos poetas metafísicos, evoca estados da alma, com suas forças inconscientes, surgidas no sonho e na imaginação, realizando uma perquirição existencial e/ou religiosa. Com bases nas definições apresentadas até aqui, analisar-se-á os poemas O palácio da ventura, de Antero de Quental, e Vaidade, de Florbela Espanca, correlacionando-os sob a ótica da poesia metafísica.
Palácio da ventura Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura! Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura… Vaidade Sonho que sou a Poetisa eleita, Aquela que diz tudo e tudo sabe, Que tem a inspiração pura e perfeita, Que reúne num verso a imensidade!
E eis que súbito o avisto,