a morte das águas
Darci Godói Quintão
A sábia natureza surpreende pelos seus caprichos. Pequena fonte de água pura percorrendo o caminho tortuoso, por entre pedras e vegetações exuberantes, adquire volume e força, alimentada por outras delicadas e distantes fontes. A cada quilômetro absorve mais e mais água, como se para se concentrar em seu leito toda água existente em sua região.
Indomável, segue adiante como se consciente fosse do seu papel. Cresce caudaloso e mais se agigantando é contido pela mão do homem, por sólida barreira de concreto, supostamente intransponível, desejoso de mostrar ao curso da água o seu poder. Consegue apenas contê-lo, dele roubando as energias para gerar nova riqueza, como se não bastasse o que a natureza pacífica, ordeira e constante oferece ao mundo: a vida!
Vida vegetal, vida animal, sobrevivência ! Em seu leito, ainda um pouco mais que um filete de água, vivem seres minúsculos e seres dependentes de sua perenidade.
A natureza sábia e caprichosa ensinou ao homem, certamente não tudo, mais muito do seu saber, pois o homem, ao conter as águas que correm, inicialmente se esqueceu da vida que as águas geram e, depois, lembrado pela própria natureza, facilitou para os minúsculos e os grandes seres vivos dessas águas, a comunicação entre o que foi contido e seu prolongamento por outros vales, antes de exclusivo serpentear em busca de maior espaço.
Antes filete de água, agora já volumoso Rio, majestosa corrente de água turva, indomável, agressiva, derrubando barrancos, inundando margens, trazendo consigo variados tipos de conviventes, como o dourado e o surubim, que são alimento para tantos e tantos ribeirinhos.
Caprichosa, a natureza reserva para o homem a mais bela das surpresas! Oferece suas águas, até na sua totalidade se for preciso, aos homens para que delas se utilizem racionalmente, irrigando até então terra estéril.
Sugada do seu leito natural com avidez por meios mecânicos