A Linguagem Como Formadora da Identidade – Individual e Social – em “O Engima de Kaspar Hauser”
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Tendo sido encontrado em uma praça na cidade de Nurenberg, Alemanha, em 1928, Kaspar Hauser não havia tido nenhum contato social anterior – exceto com o homem que trouxera-o até ali. Até ter sua educação iniciada aos 15 anos, K. Hauser não tinha noção de coisas como lógica, linguagem articulada e tempo, coisas que são apenas desenvolvidas através de uma relação entre o ambiente e o convívio social. Em uma das vezes em que foi indagado sobre sua vida no cativeiro, Kaspar responde “eu não existia”. É possível identificar aí que sua concepção de “eu”, ou seja, a sua individualidade pessoal, era inexistente, e só passaria a existir depois de desenvolvida a linguagem. Como a prática social – aprendida através da linguagem e juntamente a ela desde os primeiros anos de vida – fora, de certo modo, “negada” a Kaspar, ele não possuía os mesmos “filtros sociais” que moldavam sua percepção de realidade, e não conseguia captar o mundo como as outras pessoas do meio em que vivia. Ele decodificava o que vivenciava de uma maneira própria e com uma lógica diferente da estabelecida. Isso fica evidente quando K. Hauser é confrontado por um problema de lógica por um professor e dá uma resposta totalmente diferente da esperada por ele – mas não menos correta. O professor, então, recusa-se a aceitar a resposta de Kaspar. Mesmo tendo sido – tardiamente – inserido na linguagem e costumes sociais, era visto sempre como um ser “incompleto” por não ter a mesma formação do meio em que vivia. Era, por isso, “estigmatizado” causando espanto e interesse nas pessoas, mas jamais sendo aceito como parte integrante da sociedade.