A enfermagem portuguesa
Falta-nos uma perspectiva histórica da evolução da enfermagem em Portugal, do seu ensino, da sua prática, das suas condições de exercício, de emprego e de trabalho, da sua sociodemografia, da sua actividade associativa, etc., pelo menos desde há 150 anos para cá, em articulação com o desenvolvimento do sistema de saúde e de assistência (Graça, 1996).
Aliás, sobre este tópico a bibliografia ainda é escassa e de reduzido interesse, a não ser descritivo e factual (Sacadura, 1950; Ferreira, 1986; Nogueira, 1990; Ferreira, 1990). Quanto à investigação sociológica, ela é praticamente inexistente.
Lemos (1991), por sua vez, dedica à história da enfermagem apenas algumas notas circunstanciais, o mesmo é dizer que ignora pura e simplesmente a proto-história da prestação de cuidados básicos aos doentes desde a Idade Média até ao fim do Antigo Regime.
Há cem anos atrás, a situação da enfermagem hospitalar no nosso país deixaria muito a desejar, por comparação com países europeus como a Inglaterra ou a Alemanha. Em contrapartida, no início da segunda metade do Séc. XVIII, temos notícias de que eram frequentes os abusos praticados pelos enfermeiros e ajudantes do Hospital Real de Todos os Santos (HRTS).
Lemos (1991. 142-143) dá-nos conta de alguns exemplos, mais ou ou menos anedóticos e caricatos, de "comportamentos reprováveis", extraídos da leitura do relatório do enfermeiro-mor (provedor) D. Jorge Mendonça, que tinha sido nomeado pelo Marquês de Pombal: * Por volta de 1758, "os enfermeiros e mais pessoal inferior" (sic) costumavam trazer os amigos para almoçar e jantar no hospital; * Entre Julho de 1758 e Junho de 1759, o consumo de carne de galinha era exorbitante, dando qualquer coisa como 100 galinhas em média por dia e originando uma despesa superior a 7600$000 réis; * Como termo de comparação, refira-se que na época uma tal importância era elevada: o equivalente à remuneração anual de 180 enfermeiros (Em