a crase
Deputado quer acabar com o acento grave no A por considerar que a crase humilha a maioria dos escribas nacionais.
Por Josué Machado.
A crase não foi feita para humilhar ninguém.Esse aforismo, criado há cinqüenta anos pelo poeta Ferreira Gullar num momento de humor, agora está sendo usado como arma para usar o acento grave(`) no a. O deputado João Hermann Neto pretende abolir esse acento do português do Brasil por meio de projeto de lei 5.154, de 2005.
“Art. 1º - Fica extinto o uso do acento grave para indicar a ocorrência da crase.
Parágrafo único – A ocorrência da crase da preposição a com o artigo, pronome demonstrativo e pronome relativo continuará normalmente, deixando apenas de ser indicada pelo acento grave.
Art. 2º - Conceder-se-á às empresas editoras de livros e publicações o prazo de 3(três) anos para o cumprimento do que dispões esta Lei.
Art. 3º - Esta Lei entrará em vigor 30 dias após a sua publicação, revogadas as disposições em contrário”.
Curto e grosso. Ainda bem que o involuntariamente engraçado parágrafo único do artigo primeiro consente que o fenômeno lingüístico da crase continue existindo. Que alívio! Porque tal fenômeno existe independentemente da vontade dos viventes e falantes da língua. Por sábios ou tolos que sejam. Aliás, se pretendesse abolir um fato sintático, seria como se tentasse revogar a lei da gravidade. Ou, mais difícil: determinar que todos os políticos fossem honestos. Ou, mais ainda: que os governantes governassem em benefício dos governados, e não, deslumbrados, da população e não, deslumbrados, em interesse pessoal, da corte, de agregados e concessionários.
Como o atual e o anterior, por exemplo.
Tropeçando nos acentos
Para justificar o seu projeto, o deputado cita a frase de Ferreira Gullar e a crônica “Tropeçando nos Acentos”, em que o escritor Moacir Scliar reclama do excesso de sinais gráficos usados na língua e , particularmente, o indicador da crase.
- O emprego do