A caverna iluminada
A caverna iluminada
Anunciaram na televisão:"Em função do esgotamento das fontes não renováveis de energia, o mundo inteiro passará por um período sem eletricidade". Um frio me percorreu a espinha. Fiquei imaginando como eu, minha esposa e meus filhos viveríamos sem a televisão, celular e tantos outros objetos tecnológicos nos quais foram gastas grandes quantias de nosso dinheiro.
O grande dia chegou. Acordei, entrei no banheiro para lavar o rosto e tentei acender a luz... Nada... Melhor assim, pelo menos não contemplaria a imagem desgastada no espelho. Quando a noite surgia, ninguém tinha coragem de sair às ruas e elas ficavam solitárias, mórbidas. Devido a isso, às nove da noite já estávamos todos dormindo.Não tinha mais como passar horas pela madrugada lendo os relatórios do emprego.Com isso, o meu problema de insônia foi sendo curado. A imagem do espelho começou a mudar.
Com o tempo, os alimentos dos supermercados sofreram de escassez. Tivemos que plantar a própria comida no quintal de casa. Pela primeira vez, púnhamos a mão na terra e víamos o quanto era desgastante fazer um simples saco de arroz chegar à mesa de jantar. E pensar que só dávamos valor aos grandes juízes entrevistados pelos jornais. Eu sofria de um problema horrível de acidez estomacal. Depois que passei a ingerir esses alimentos mais naturais, nunca mais ele apareceu.
Não havia mais computador, filme e nem vídeo-game para as crianças. No início, era um tédio. Mas, aos poucos, o diálogo foi preenchendo o imenso vazio que pairava sobre nossa família. Ensinei aos meus filhos as brincadeiras nostálgicas da minha época de infância. Nunca mais eu e minha esposa tínhamos jantado à luz de velas.Acabamos por recuperar o amor sufocado pela artificialidade da tecnologia.
O motor do mundo voltou a girar. As luzes se acenderam. As cidades despertaram e voltaram a parasitar a vida de cada família. A nossa, no entanto, resolveu cortar a eletricidade de casa, esse mal que tanto nos