A busca do Rigor
Editora Brasiliense, 2007
A BUSCA DO RIGOR
A ideia de estilo
Os discursos que determinam o estatuto e o objeto das artes não são unânimes nem constantes. Sua segurança enquanto critério de julgamento já pode ser, num primeiro tempo, questionada: eles podem ser contraditórios tanto na atribuição do estatuto da arte quanto na determinação da hierarquia. O fato de que certas obras pareçam possuir uma “permanência” no tempo não retira o caráter institucional da autoridade do discurso: foi ele quem exaltou durante séculos Fídias e Rafael, foi ainda ele quem lhes promoveu a crítica.
Além disso, a própria ideia de critério aparece como um esquema que perturba nossa aproximação da arte.
Sabedores de que Calixto é menor do que Leonardo, predispomo-nos sumariamente a exaltar o segundo e a menosprezar o primeiro. Entretanto, a visão do litoral paulista que Calixto oferece é insubstituível; poética e serena, ela possui uma sensibilidade própria, rica e enriquecedora. Entretanto, a afirmação de que a Gioconda é uma obra-prima serve apenas para consagrá-la, sem que a nossa apreensão da arte — e do mundo
— melhore em alguma coisa.
A história da arte e a crítica não se contentam, porém, em determinar, com um veredicto sem justificações, a qualidade do objeto artístico. Elas trazem, ligados a esse julgamento, o discorrer sobre o objeto, o suporte que leva ao julgamento. Ora, a situação de divergências não é satisfatória para o próprio discurso. Nada mais irritante para sua autoridade que a negação por um outro discurso. Surge então o desejo de uma objetividade.
Os discursos sobre as artes parecem, com frequência, ter a nostalgia do rigor científico, a vontade de atingir uma objetividade de análise que lhes garanta as conclusões. E na história do discurso, na história da crítica, na história da história da arte, constantemente encontramos esforços para atingir algumas bases sólidas sobre as quais se