Vícios de linguagem
Jorge Larrosa
A marca mais forte da minha formação de geógrafa é a necessidade de descrever espaços. Com Certeau, aprendi a pensar sobre os usos dos espaços percorridos por mim, e mais ainda, aprendi a pensar sobre o uso dos espaços onde trabalho: os escolares.
Moradora da cidade do Rio de Janeiro desde que nasci, trabalhei durante cinco anos no Colégio Estadual Professor José de Souza Herdy, escola pública estadual situada no município de Duque de Caxias, distante da minha casa quinze minutos de carro (pela via expressa Linha Vermelha) ou uma hora de ônibus mais uma caminhada de vinte minutos. Se revelasse a distância em quilômetros, não estaria revelando os muitos tempos reais de chegada à escola, sendo assim, o faço de maneira cotidiana: pelo tempo do relógio de carro, ônibus e caminhada.
Em maio deste ano eu e minha família tivemos a oportunidade de ir morar em outro município litorâneo do estado do Rio de Janeiro, muito menor que a cidade do Rio, ou seja, mais calmo, não tão violento, e com distâncias menores. O ritmo do município, Cabo Frio, é ditado pelo verão, época em que a cidade “incha” de cariocas, paulistas, mineiros e argentinos procurando “calma”, e quem mora nele ou se aproveita comercialmente desta época, conta nos dedos os dias em que o verão e as férias escolares acabam, como uma professora, moradora do Peró, disse que o sentimento que a invade no verão é “Devolvam meu Peró!”. Quem sabe no próximo verão não estarei pensando algo