VOCÊ ABUSOU

VOCÊ ABUSOU
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Dupla abusada da Bahia, sua música de refrão chiclete tomou conta do país naquele distante 1971.

Antonio Carlos & Jocafi, cantando o eterno romantismo dor de cotovelo, recorrente, mas sempre renovado, conseguiram o milagre.

Falo do milagre sonhado lá no recôndito mais secreto de cada compositor, cada músico, cada cantor: o da canção que, ouvida uma única vez, nunca mais se esquece.

“Você Abusou” é isso aí. Vem abusando da nossa memória afetiva, ou não, desde aqueles anos de chumbo da ditadura militar.

[Que, aliás, permitiram, também, o desfrute da ambiguidade contida no refrão, apesar de menos votado que “Vai Passar”, samba-enredo descolado, engajado, engraçado – do tipo ‘só dói quando eu rio’ – de Chico Buarque de Hollanda no Brasil garrastazul.]

Antonio Carlos & Jocafi, esses meninos, abusaram, mandaram ver: ♬♪ | Você abusou | Tirou partido de mim | Abusou | Tirou partido de mim | Abusou | ♬♪

Maria Creuza, afinadíssima e refinadíssima cantora baiana – namorada Antonio Carlos desde adolescente – também gravou, poucos meses depois, o hit.
Aí não teve pra ninguém. No rádio, era só o que tocava.

Quase mantra: tocou, escutou, colou.

Mas o quadradismo dos versos dos baianos também ia de encontro aos intelectos dos que não usam o coração como expressão. Foi música muito criticada. Apesar dos narizes torcidos, especialmente daqueles permanentemente erguidos frente aos sucessos populares, ela continuou tocando e tocando corações.

Que o diga Michel Fugain, corsário cara-de-pau da música francesa.

Ele tirou partido de “Você Abusou”, assinando candidamente a composição como sua e que estourou, em 1973, quando se tornou nada menos que o Hino do Partido Socialista na França com o nome de “Fais Comme L’Oiseau”.

O pirata bretão acabou tomando um processo pelos peitos e desafinou com pesada multa na Justiça.

Apesar do reconhecimento internacional da autoria da dupla baiana, a