Verossimilhança e resistência em Luigi Pirandello
Prof. Dr. Jorge de Almeida
Introdução aos Estudos Literários II
Verossimilhança e resistência em Luigi Pirandello
!
O falecido Mattia Pascal, romance de Luigi Pirandello publicado em 1904, expõe o percurso biográfico de Mattia Pascal. Dado erroneamente como morto durante uma pequena fuga da cidade do interior da Itália em que vivia, após a morte quase simultânea de suas queridas mãe e filha, o fracasso de seu casamento e o acúmulo de dívidas devido à ruína de sua antes abastada família, Mattia considera ter sido presenteado com uma possibilidade de livrar-se de todos os problemas supracitados e criar uma nova vida si, ou, melhor dizendo, para Adriano Meis, seu novo
“eu”. No entanto, após algum tempo viajando, sendo e sentindo-se um “forasteiro da vida”, é impelido a estabelecer-se e criar laços e, por conseguinte, fica evidente o fracasso da formação individual pretendida – considerando o peso de suas mentiras e a destituição de direitos inerentes à sua condição, pois “fora da lei e fora daquelas singularidades, alegres ou tristes, com as quais nós somos os que somos, meu caro senhor Pascal, não é possível viver” (PIRANDELLO, 2011a: 200) –, a que se sucede a simulação do suicídio de Adriano Meis, o retorno de Mattia à sua cidade natal e a sua “ressurreição”.
É após essa ressurreição que ele é convencido a narrar sua história. Mattia Pascal, o
“falecido”, é, portanto, o narrador do romance, e, se aplicarmos aqui a tipologia dos narradores de tradição oral desenvolvida por Walter Benjamin1, caracteriza-se por ser o tipo mais completo: articula a experiência das viagens de Adriano Meis com a distância temporal que há entre o momento em que a história narrada acontece e o em que ela é enunciada. Benjamin2 diz, ainda, que a natureza da verdadeira narrativa “tem sempre em si, às vezes de forma latente, uma dimensão utilitária”. O próprio narrador da obra aqui tratada revela essa dimensão, dizendo que não escreveria se não considerasse seu caso