Uma reflexão sobre o poema de alberto caeiro “não basta abrir a janela”
A biografia inventada para o poeta e os poemas que levam sua assinatura: “para tão curta vida, quase toda ela transcorrida no campo, para tal biótipo e para um dia-a-dia sem problemas e cuidados um indivíduo que viveu muito pouco, não tendo tempo para sentir os dissabores da vida, e que passou todo esse pouco tempo no campo, sem trabalhar e sem maiores preocupações, faz sentido que sua poesia englobe todos os aspectos de sua existência, que funcione como instrumento ou lente por onde ele observa e traduz o mundo.
Também faz sentido que, tal qual acontece com os seres na natureza, ele use dos sentidos, negando o pensamento racionalista e “humano” que de tudo desconfia, para chegar à verdade.
Essa postura está expressa logo nos primeiros versos do poema analisado que, sem subterfúgios estilísticos complexos, começa a demonstrar de que maneira o poeta enxerga a realidade.
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
Para enxergar de fato as árvores, o rio, as flores, os campos, as coisas do mundo, não é suficiente para o poeta apenas utilizar os sentido da visão.
Para olhar essas coisas como elas são é preciso um outro fator:
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Como se pode perceber por estes versos, para o poeta coisas não são idéias.
Coisas são coisas. Uma demonstração filosófica da realidade, por meio de idéias, é sempre insuficiente para demonstrar a realidade.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
Com a vida baseada em pressupostos filosóficos, não naturais, cada um de nós é, para o poeta, como um mundo - uma cave, um lugar escuro debaixo do chão, um lugar isolado.
Não há a convivência básica e universal de apenas se estar na natureza.
Com esses versos iniciais já é possível perceber