“ Um breve olhar sobre o feminino no séc. xix- a mulher burguesa na lisboa oitocentista”
"Ainsi comme un poirier appartien au propriétaire des poires, la femme est proprieté de l´homme à qui fournit des enfants.” Napoleão Bonaparte “ O destino da mulher e sua única glória são fazer bater o coração dos homens. É propriedade que se adquire por contrato; ela é mobiliária porque a sua posse vale como título; a mulher, enfim, não é, propriamente falando, senão um anexo do homem.” Honoré de Balzac A imagem de um século XIX sombrio e triste, austero e constrangedor para as mulheres, é uma representação espontânea. Seria errado acreditar, no entanto, que esta época é apenas o tempo de uma longa dominação, de uma absoluta submissão das mulheres a uma codificação colectiva precisa, socialmente elaborada. Porque este século significa o nascimento do feminismo, palavra emblemática que designa tantas mudanças estruturais importantes (trabalho assalariado, autonomia do indivíduo civil, direito à instrução) como o aparecimento colectivo das mulheres na cena política. Este século é precisamente o momento histórico em que a vida das mulheres muda, em que a perspectiva da sua vida muda; tempo da modernidade em que é tornada possível uma posição de sujeito, de indivíduo de corpo inteiro e de actriz política, futura cidadã1. Mas será necessário fazer um recuo a finais do século XVIII, época em que a Europa foi palco de profundas transformações políticas, sociais e económicas, para compreendermos que a mulher já então desempenhara um papel precursor no processo da sua emancipação. A Revolução Francesa, para além de ter sido o movimento burguês que culminou na queda do Antigo Regime, determinou a primeira grande participação das mulheres num amplo movimento de massas, quer combatendo ao lado dos homens, quer participando em clubes e associações próprias. Data deste período a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã ( 1789, Olympes de Gouges, numa réplica à Declaração dos Direitos do Homem), em que era defendida a