Tubin e outra coisas
Notas para uma teoria radical da política da sexualidade*
Gayle S. Rubin**
I - As guerras sexuais
Consultado, o Dr. J. Guerin afirmou que, depois de ter experimentado em vão outros tratamentos, ele conseguira curar meninas viciadas em onanismo queimando os seus clitóris com um ferro quente... Eu aplico a ponta quente três vezes em cada grande lábio e uma no clitóris... Depois da primeira operação, o número de espasmos voluptuosos, que era de catorze a quinze vezes por dia, diminuiu para três ou quatro... Acreditamos, pois, que em casos semelhantes àqueles que nos foram apresentados, não se pode hesitar em recorrer ao ferro quente, e o mais cedo possível, para combater o onanismo clitoriano e vaginal em meninas. (Demetrius Zambaco[1])
Chegou a hora de pensar sobre sexo. Para alguns, a sexualidade pode parecer um assunto sem importância, um desvio frívolo de problemas mais graves como pobreza, guerra, doença, racismo, fome ou destruição nuclear. Mas é precisamente em épocas como essa, quando vivemos sob a ameaça de uma destruição inimaginável, que as pessoas ficam perigosamente enlouquecidas com a sexualidade. Os conflitos contemporâneos relacionados aos valores sexuais e ao comportamento erótico têm muito em comum com os conflitos religiosos de séculos passados. Eles adquirem um imenso peso simbólico. Discussões sobre o comportamento sexual muitas vezes são meios de esquivar-se de preocupações sociais e descarregar as tensões sociais que as acompanham. Assim sendo, a sexualidade devia ser tratada com especial cuidado em tempos de grande stress social. O reino da sexualidade também tem sua própria política interna, suas desigualdades e modos de opressão. E, juntamente com outros aspectos do comportamento humano, as formas institucionais concretas da sexualidade em determinado tempo e lugar são produtos da atividade humana. Elas são permeadas por conflitos de interesses e por manobras políticas, tanto