Tribos Urbanas
Fraya Frehse
José Machado PAIS e Leila Maria da Silva BLASS (orgs.). Tribos urbanas: produção artística e identidades. São Paulo, Annablume, 2004. 234 páginas.
Ao elegerem como tema primordial de estudo as chamadas "tribos urbanas", os organizadores deste livro sabiam que pisavam num chão já bastante palmilhado, nas últimas décadas, pelas ciências sociais devotadas ao contexto urbano. Um chão, por isso mesmo, marcado por pontos de vista específicos a respeito da noção de "tribo urbana".
A partir de 1985 o sociólogo francês Michel Maffesoli começava a utilizar o termo "tribo urbana" em seus artigos, e em 1988 surgia o seu Le temps des tribus: le déclin de l'individualisme dans les sociétés postmodernes. O uso da noção era metafórico, para dar conta de formas supostamente novas de associação entre os indivíduos na "sociedade pós-moderna": o autor fala em "neotribalismo". Seriam essencialmente "micro-grupos" que, forjados em meio à massificação das relações sociais baseadas no individualismo e marcados pela "unissexualização" da aparência física, dos usos do corpo e do vestuário, acabariam, mediante sua sociabilidade, por contestar o próprio individualismo vigente no mundo contemporâneo.
Alguns anos depois, José Guilherme Magnani (1992) retomava, no contexto brasileiro e numa perspectiva antropológica, a noção de "tribo urbana" a fim de problematizar o seu uso ambíguo não apenas na mídia, mas também em "pesquisas e trabalhos ditos científicos" – embora não haja no texto qualquer referência explícita a Maffesoli. O antropólogo brasileiro argumenta em favor de contextualizações do emprego da metáfora, já que o "domínio original" de tribo seria a etnologia e, no âmbito desta, a análise de formas de organização social que transcendem os particularismos dos grupos domésticos e locais (Magnani, 1992, p. 49). Já a utilização do termo em relação às chamadas "sociedades complexas" aludiria ao contrário: a pequenos grupos