Trabalho na sociedade antiga
Sociologia do Trabalho
Cesar Sanson
O trabalho na sociedade antiga
Interpretar a subjetividade – o trabalho como portador de valores e sentido para a existência – presente na organização social no trabalho na sociedade antiga é um exercício de abstração e encerra até mesmo certo anacronismo. Primeiro, porque a categoria trabalho, tal qual a compreendemos hoje era inexistente. Segundo, em função que se trata de uma sociedade estruturada pelo não trabalho e em terceiro, dada às razões anteriores, porque o trabalho não se constituía como o fator fundante da organização social (ARENDT, 2002; MÉDA, 1995; MIGEOTTE, 2005; VERNANT; NAQUET, 1989).
Portanto, compreender a subjetividade dos trabalhadores e trabalhadoras da sociedade antiga requer uma hermenêutica apropriada à configuração societal da época, ou seja, encontrar o exato lugar do trabalho na cosmovisão de mundo do período em análise. Apenas a partir desse ponto é possível falar em uma subjetividade do trabalho referente à sociedade antiga. Mesmo assim, a análise da subjetividade adstrita ao trabalho, ou o que mais se aproxime de sua noção do período em questão, recebe interferências da compreensão que dele temos hoje. Apesar do esforço em compreender o sentido da subjetividade relacionada ao trabalho na sociedade antiga pelos que nela vivem, não se pode deixar de reconhecer que essa análise sempre tem como referência a aplicação de categorias utilizadas hoje.
A opção de partida da análise da subjetividade pela sociedade antiga – a sociedade grega, e não a sociedade primitiva1 - se deve ao fato que os gregos “articulavam racionalmente a sua posição em relação ao trabalho ou em relação a um determinado número de tarefas que conduzem hoje à nossa ideia de trabalho” (MÉDA, 1995: 37). E também, porque a sociedade do trabalho ocidental, como a conhecemos, acolheu heranças importantes do “paradigma grego”. O interesse em perscrutar o sentido do trabalho na sociedade antiga é porque ele nos