trabalho de portugues
Doutor em Letras pela FFLCH-USP e autor de Marcas da Catástrofe: experiência urbana e indústria cultural em Rubem Fonseca, João Gilberto Noll e Chico Buarque. São Paulo: Nankin Editorial, 2001
Esta análise do poema "Anoitecer", de Carlos Drummond de Andrade, examina a estrutura de tensões que o organiza, buscando determinar a configuração do sentido e de sua dimensão histórica. É assim que os elementos técnico-formais da linguagem poética (especialmente a sonoridade) são discutidos como uma camada que, articulada às outras, compõe o significado do poema.
Hoje é muito comum lembrar a famosa observação de Mallarmé segundo a qual não é com idéias nem com sentimentos que se faz poesia, mas sim com palavras. Tornou-se quase um truísmo afirmar que a matéria fundamental da lírica é a linguagem, embora isso seja feito a partir de diferentes pontos de vista teóricos, que divergem quanto às concepções sobre a lírica e sobre sua relação com a sociedade. Por isso, as implicações dessa afirmação aparentemente banal são várias e, às vezes, difíceis, de modo que vale a pena mencionar algumas delas, ainda que de maneira breve.
Todo poema apresenta uma camada material, formada por elementos aparentes, que podem ser regulares ou variáveis (como o metro, o ritmo, a rima, a aliteração, o encadeamento, a estrofação etc.), a partir dos quais é possível apreender um dos aspectos de sua construção interna. Elemento importante dessa camada material é a sonoridade conscientemente buscada para realçar o valor expressivo das qualidades acústicas das palavras, produzindo certa musicalidade e certos efeitos sensoriais. Ao mesmo tempo, o poema nunca é apenas uma estrutura sonora, pois é também uma estrutura de significados, a qual, por sua vez, se define pelo modo como as palavras são empregadas (muitas vezes em sentido metafórico) e pelas relações que elas estabelecem entre si. Assim, os efeitos produzidos pelo arranjo do material sonoro entram em relação com a