To fazendo ainda
O objetivo da tese foi conhecer e compreender as relações dos adultos com as crianças e das crianças entre si; numa creche pública da cidade do Rio de Janeiro. Tendo como base a história das creches no Brasil; a perspectiva médica e sanitarista nestas instituições; o viés higienista dos contatos entre adultos e crianças na creche é discutido e o seu desdobramento numa perspectiva do cuidado como ato instrumental e mecânico. No contraponto; a tese traz a visão de Foucault acerca do cuidado (a partir do seu estudo da cultura greco-romana); compreendido como cuidado de si; exigindo um trabalho permanente sobre si; questionamento de si mesmo; numa dimensão ética e humanitária. A pesquisa de campo foi realizada no berçário de uma creche pública do Rio de Janeiro. A perspectiva etnográfica orientou a permanência no campo; onde foram realizadas descrições densas das interações e práticas; fotografias e entrevistas com as profissionais envolvidas diretamente com os bebês; as recreadoras. Tendo como base os estudos de Marcel Mauss sobre as técnicas corporais; a pesquisa mapeou a funcionalidade e utilidade do corpo das crianças no dia a dia; assim como diferentes modalidades de cuidado que emergiram (automático; disciplinar; e como atenção a si e às crianças). Dispositivos de poder presentes no cotidiano foram analisados; tais como os berços; cadeiras de alimentação e os trabalhinhos. A pesquisa evidenciou tanto a forma através da qual os corpos são modelados e as crianças experimentam-se como guiadas pelos adultos; como as estratégias das crianças; invenções de novos modos de relação e contato delas entre si e delas com os objetos. Assim; os berços tornam-se mediadores de trocas e as cadeiras de alimentação transformam-se em esconderijos. O conceito de ato e atitude responsiva de Bakhtin abriu mais uma via para identificar expressão e vida entre as crianças nas ofertas de objeto; imitações