TICA NAS ORGANIZA ES
Conto as falcatruas corporativas, mas não conto os fraudadores. Até porque nem precisa. Para os leitores sempre atentos do EKO, o caso é notório: saiu com destaque na revista “Exame” e foi amplamente veiculado pela “Agência Reuters” no mundo todo. Só relembro aqui, uma vez que parece ilustrativo do que se seguirá.
Há cerca de 15 anos, chegou ao Brasil empresa líder mundial, inclusive em segmentos alimentícios. Seu objetivo era claro: comprar aqui todas as principais marcas e, assim, formar o maior market share de seu business específico no país. Conseguiu. Em 2012, já vendida para outra gigante global do ramo, descobriu-se enormes ilicitudes na subsidiária brasileira. Oficialmente perdas na casa de 90 milhões de euros, sobretudo nos balanços, que visavam garantir bônus de altos executivos. O principal ilusionismo, apurado por auditoria independente: a chamada “antecipação de vendas”.
A prática, em síntese, consiste em faturar por conta própria para varejistas que só pagavam a fatura quando, e se, recebessem de fato a mercadoria. O que poderia demorar tempo muito além dos balanços. Na contabilidade da empresa que foi vendida, abracadabra: o faturamento era computado como integral, assegurando os polpudos bônus.
Extraoficialmente há mais rumores, à boca pequena: propinas na compra de terreno e construção de nova fábrica, reciclagem de produto vencido, estranho incêndio em velha unidade etc. etc. Diante desses comprovados, e também os supostos, graves desvios de conduta, a gigante que herdou o imbroglio abriu o caso para o público – até para estancar quedas brutais nas bolsas, vazadas por informações de cocheira – e demitiu a cúpula da subsidiária, inclusive seu presidente.
Ocorre que ninguém é ingênuo para crer que algo deste porte poderia ser feito sem o conhecimento de altos executivos da matriz. E, de fato, eles foram alertados muito antes. Responsáveis pela conduta ética da empresa desde que fez seu exitoso