TEXTO
O não reconhecimento sistemático e a prática da crítica
Bourdieu, Boltanski e o papel da Teoria Crítica*
Robin Celikates tradução de Fernando Costa Mattos
RESUMO
A “virada pragmática” proposta por Boltanski e outros não deveria levar‑nos a abandonar o projeto da Teoria Crítica, como se toda a crítica necessária já estivesse articulada nas práticas cotidianas de crítica. As capacidades reflexivas dos atores “ordinários” e suas práticas de justificação e crítica, que são convincentemente reconstruídas pela sociologia da crítica, constituem a base social e metodológica da teoria crítica. Isso não deveria, contudo, levar‑nos a atribuir uma autoridade epistêmica à perspectiva dos participantes que seja imune a ser colocada em questão de um ponto de vista informado em termos teóricos.
PALAVRAS‑CHAVE: Teoria Crítica; virada pragmática; não reconhecimento sistemático; justificação.
ABSTRACT
The “pragmatic turn’” proposed by Boltanski and others should not lead us to abandon the project of Critical Theory, as if all necessary criticism were already articulated within everyday practices of critique. The reflective capacities of “ordinary” actors and their practices of justification and criti‑ que, which are convincingly reconstructed by the sociology of critique, constitute the social and methodological basis of critical theory. However, this should not lead us to attribute an epistemic authority to the perspective of the partici‑ pants that is immune to being put into question from a theoretically informed point of view.
KEYWORDS: Critical Theory; pragmatic turn; systematic misrecognition; justification. [*] Publicado originalmente em:
Bankowsky, M. e Le Goff, A. (orgs.).
Recognition theory and contemporary french moral and political philosophy: reopening the dialogue (reappraising the political). Manchester: Manchester
University Press, 2012.
Nos últimos anos, a sociologia da crítica, tal como elaborada por