Texto
“(...) ‘Só existe uma língua se houverem seres humanos que a falem’. E o velho e bom Aristóteles nos ensina que o ser humano ‘é um animal político’. Usando essas duas afirmações como os termos de um silogismo (mais um presente que ganhamos de Aristóteles), chegamos à conclusão de que ‘tratar da língua é tratar um tema político’, já que também é tratar de seres humanos. (...) Temos de fazer um grande esforço para não incorrer no erro milenar dos gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa morta, sem levar em consideração as pessoas vivas que a falam.” (Marcos Bagno)
Desde o Império Romano, quando os romanos impuseram (ou pelo menos tentaram) o uso Latim sobre os povos conquistados para atestar o seu domínio, até hoje, quando a Língua Inglesa, por razões políticas, econômicas, sociais e tecnológicas, nos cerca por todos os lados, digo, mídias, também “impondo”, a sua suposta superioridade; vemos que a língua é um instrumento de poder. E, por assim o ser, pode ser usada como instrumento de exclusão de segmentos da sociedade, o que podemos verificar no cotidiano do nosso país: O Brasil que fala “Brasileiro”, e não Português. Esta exclusão acontece quando se considera inferior uma determinada variação do nosso idioma, quando se afirma que determinadas formas e usos da língua estão “erradas”, e quando nos prendemos a padrões descritos pela gramática tradicional sem questioná-los e sem considerar que estão em constante mudança.
Num país tão grande, como o nosso, seria impossível não existirem as variantes da língua. O que não podemos esquecer é que a origem de cada variação depende de variáveis ambientais que irão determinar como a língua se realiza na fala e na escrita de grupos sociais diferentes. Todo acontecimento lingüístico tem a sua explicação; há grupos de pessoas que falam “calça”, “bolsa” e “falta”; e há outros que falam “carça”, “borsa”e “farta”. O fenômeno que acontece nestes